Coloquei a mão na massa, levantei um muro, pedra por pedra,
com minhas próprias mãos. E ele era grande o bastante para garantir que nada o
pudesse ultrapassar.
E foram meses de trabalho, trabalho duro, pra esconder aquilo
que é feio, que é incomodo, que ninguém quer ver, pra esconder todos os
monstros que me assombravam.
E lá estavam todos os sentimentos que eu não queria sentir,
presos atrás do muro, e com todos lá, cativos, eu estava vivendo minha nova vida,
reconstruindo meus caminhos, sem pensar neles.
E de repente um olhar, uma palavra, uma lembrança. Meu muro
foi derretendo, pedra por pedra, todo gelo se desfez. E tudo o que eu não queria sentir estava lá,
livre para me atormentar novamente.
Chorei por toda aquela dor contida, senti a vergonha e todos
os erros cometidos, senti o ardor da
raiva que envenena, e até um sopro leve de esperança guardada, acompanhada da
doçura de ilusões já desmascaradas.
E mais uma vez eu me iludi, na vã esperança de calar a dor,
acreditei novamente no impossível, nos contos de fada, em tudo que pudesse me
afastar da realidade, e da dor que ela trazia.
Mas não se vive de ilusões antigas, e mesmo se eu quisesse,
não conseguiria me enganar dessa forma por tanto tempo...
E cá estou eu, cara-a-cara com os meus monstros, ciente que
dessa vez não adianta construir muros e fingir que eles não existem. É preciso
mudar a estratégia, é preciso encará-los.
E esse é o próximo desafio, encará-los e vencê-los, um por
um, todos os sentimentos que me atormentam e todas as ilusões que me perseguem.
E não será tarefa fácil, mas quem disse que seria? Recomeçar
não é fácil, mas é preciso, tão preciso como navegar...
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